Tratamento oncológico e depressão: é possível prevenir?

A promoção da saúde mental passa pela consciência de que o equilíbrio emocional é tão importante quanto o físico, visto que, mente e corpo são completamente interligados. Diante disso, cuidar da saúde mental é imprescindível, pois um “emocional” bem cuidado, promove o fortalecimento e enfrentamento de situações adversas.

O cuidado com as emoções e com as relações interpessoais pode prevenir impactos emocionais intensos e prejudiciais frente a comunicação de uma má notícia como, por exemplo, o diagnóstico de uma doença que ameace a vida, tal como o câncer.

Para o paciente oncológico, o medo, a angústia, a insegurança, a instabilidade emocional, pensamentos negativos em relação ao curso da doença, alterações de sono, e de apetite, são comumente identificados, e se não forem considerados e tratados de forma precoce, podem evoluir para um transtorno como o de ansiedade e depressão, principalmente se o paciente já possuir histórico familiar ou pessoal pregresso.

A depressão é umtranstorno de humor, e que diferentemente de episódios de tristeza transitória frente a acontecimentos difíceis e desagradáveis inerentes à vida, é caracterizada por intensa e frequente perda de interesse em atividades, que acarretam prejuízos significativos para o dia-a-dia. Alguns pacientes podem manifestar sintomas depressivos, antes, durante e após o tratamento oncológico, trazendo perda de motivação e possível baixa adesão ao tratamento. 

O tratamento oncológico, por sua utilização de fármacos presentes em algumas quimioterapias, pode conduzir o paciente a um estado depressivo. Cabe ao paciente e família estarem atentos, monitorando as mudanças de humor, comunicando alterações ao médico e equipe de saúde para a melhor condução do tratamento, sem prejudicar o que foi planejado, já que muitas vezes o protocolo de tratamento do câncer não poderá ser modificado. Para isso, a psicoterapia poderá contribuir como aliadapara a redução de sintomas do transtorno de humor.

Embora possa ser confundida com estados provocados pelos efeitos colaterais do tratamento como desânimo, fraqueza e falta de motivação, é importante que paciente, família e equipe de saúde estejam atentas às alterações de comportamento e humor progressivos e persistentes como tristeza constante, falta de esperança no futuro, irritabilidade elevada nas relações interpessoais, sentimento de culpa e menos valia, ideação, planos e atos suicidas, mesmo os mais sutis.

Do diagnóstico ao tratamento, o paciente pode passar por diversas etapas e mudanças no que se refere às emoções. Seguem algumas orientações parao paciente e família prevenirem que a depressão se instale:

  • Ficar atento às emoções e sentimentos, principalmente às variações mais extremas, observando intensidade e frequência que elas ocorrem, por exemplo, em uma semana. Caso ocorram, é importante buscar ajuda profissional com psicólogo e/ou psiquiatra, e no grupo social;
  • Cuidar da qualidade do sono;
  • Praticaratividades que contribuam para a saúde, evitando a obesidade e que gerem bem-estar emocional como, ler um bom livro, ouvir música de preferência, dançar, cultivar plantas, construindo dessa forma boas experiências individuais e em grupo;
  • Buscar fortalecer laços com familiares e amigos. Pacientes com bom suporte social e espaço para falar de seus sentimentos sem julgamentos,geralmente sentem-se mais apoiados e motivados para o tratamento e para a vida;
  • Praticar a espiritualidade como forma de enfrentamento e fortalecimento diante dos desafios, caso encontre significado nestas práticas do sagrado;
  • Aprender e fazer coisas novas. Ter projetos de futuro imediato como ir a um lugar nunca antes visitado, experimentar uma comida diferente, contemplar uma paisagem que nunca foi notada, dentre outras experiências inéditas.

A constante realização de tarefas do dia-a-dia, faz com que as pessoas esqueçam de fatores que ajudam a preservar a saúde mental. Ter uma cultura de autocuidado, com práticas sadias deve ser mantida em todos os momentos da vida, e não somente quando nos deparamos com situações de crise, sofrimento ou doença. Faça escolhas por sua qualidade de vida e por você.

Autoras:

Leidiane Nogueira – Psicóloga Clínica

Ingrid Viégas -Psicooncologista

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